A Peleja de Mané


A Peleja de Mané,

um Trabalhador Brasileiro.


Cordel de Matheus Brasileiro Diniz
Capa: Joelyton Pontes - @joepontess (Instagram) - Cel.: 83 99846-5135


Vou contar uma história
De Mané, trabalhador,
Como muito brasileiro,
Sonha um dia ser doutor,
E na labuta diária,
Viu a velha represária
Desse mundo explorador.


O Mané veio de longe Lá pra’s bandas do sertão, Nordeste que é sofrido E quente que nem o cão. Decidiu sair de lá, Pra na capital morar, Procurar a salvação. “- Vô saí dessa peleja De roçá e capiná De cuidá de bicho triste, Água tem nem pa moiá. Prantação num presta mai, As terra só dá pra trai Tá difíce arrecadá. Eu vô mimbora tentá A vida em ôto distino, Pa ganhá algum dinhêro, Sustentá meus dez minino Raimunda vai se orguiá, Pois muito vô trabaiá Pra me torná um granfino”. 1 Mané ali decidiu, Foi embora viajar Tentar a sorte na vida Mal sabia o findar Daquela sua aventura Que nessa literatura, Continuo a retratar. Cinco dias na estrada O ônibus abarrotado De gente que como ele Mudaria de Estado. A chance da evasão Selaria a confusão De um povo alienado. Seu destino era famoso Rio de Janeiro, capital, O Cristo a recebê-lo, Coisa linda o visual, Praias belas e arquitetura Mostram toda formosura, Mané nunca viu igual. Os prédios por toda parte Povo chique, de carrão, Esportes bem diferentes Nunca vira no sertão, A culinária era fina, O Rio era endorfina Esperança ao coração: “ - É pra cá que vô vivê, Criá meus fi, passeá E prumá por essas praia, Vô até prendê nadá Aproveitá a cidade Bunita e sem maldade, Raimunda vai adorá. 2 Vô butar o meu currico Nos canto para pudê Trabaiá e tão ligeiro Meus fios logo trazê, Vô puder dar a muié Roupas, jóias e até Um lar para nóis viver” No entanto, seu Mané 1 mês ainda esperou Morando com um amigo, Que um quarto lhe emprestou, Certo dia finalmente Um rapaz liga contente, De uma vaga lhe falou: “- Opa, fala seu Mané? Como vai, ó meu irmão? Eu tenho aqui comigo Uma vaga de antemão, O melhor shopping do Rio Em você que eu confio Pra cuidar do meu saguão. Cuidará de um setor Do campo de alimentos Nos horários de trabalho São melhores os momentos, Pois aqui tem alegria E durante o dia a dia Não há descontentamentos. Será o encarregado Para tudo ajeitar, Zelará por esse espaço Nada poderá faltar, Quero tudo organizado, Venha cá, meu consagrado, Pois eu vou lhe contratar! 3 Seu Mané, muito feliz Com aquela novidade Disse logo pra si mesmo: “Coisa boa essa cidade, O patrão é gente boa Eu não vou ficar à toa Terei minha dignidade. Tenho muita experiência De cuidar de alimento, Na roça tudo fazia, É o mesmo departamento, Cuidarei com atenção Desse espaço do patrão, Logo vai me dar aumento.” E chegando lá, o chefe Disse assim: – seja bem vindo Essa é sua família, Aqui estará servindo Tome logo sua farda, Ela sob sua guarda Vai deixar você bem lindo. O salário é muito bom: Mil e duzentos por mês Mané é homem de sorte, Você é o cara da vez! E ainda pra completar Num shopping vai trabalhar, Isso é vida de burguês! Sua função: zelador! Tome aqui o esfregão, Pegue ali aquele balde, Comece limpando o chão, No saguão muito se come E por isso o seu nome: "Praça da Alimentação”. 4 São seis vezes na semana, 12 horas cada dia, 1 hora de almoço, Organize o seu dia, Por favor, não atrasar, Pois o ponto vai marcar Aqui a sua estadia. Avise se por acaso Tiver alguma objeção, De nada quero saber, Problemas ou depressão Da sua vida lá fora, Você veja logo agora, Arrumo sua demissão. Peço que não adoeça, Se cuide, seja valente, Precisamos de você Com energia e contente E se acaso for faltar O salário vou cortar, Quero que fique ciente. Seja muito prestativo, Mas só fale o trivial, Esteja sempre atento Pra deixar tudo normal, O cliente tem a razão, Ele é o nosso irmão, Não podemos falar mal. O Mané, meio sem jeito, Era muita informação, Ficou quieto e aceitou Exigências do patrão, Continuava a sonhar Com a vida melhorar, Era grande a missão. 5 O dinheiro era pouco, E também muito suado, Ele não imaginava Que era esse o combinado, Achou que ali no Rio Seria o grande desvio A mudar o seu passado. Mas mesmo assim persistiu, O trabalho era demais, Mané e os seus colegas Pareciam uns animais A seguir uma rotina, Seria essa a sua sina Para não mudar jamais? Um certo dia, então, Mané se desesperou Quando vinha um menino Correndo e tropeçou, Foi aquele seu esfregão Que selou a confusão, O pai dele esbravejou: “Seu preto, pobre, imundo, Macaco desajeitado, Você quer matar meu filho? Eu sou um advogado, A polícia vou chamar, Quero ver você ficar Hoje mesmo encarcerado. Ao seu chefe eu irei Mandar logo lhe expulsar, Vá embora pro Nordeste, Um jumento vá montar, Aqui um analfabeto Igual a você, inseto, Nunca irá prosperar.” 6 Mané disse: “Ma rapai, Não me dê esse desgosto, Tava aqui a trabaiar De costa aqui no meu posto E o seu fi eu nem vi Quando vi estava ali Caído com a mão no rosto. O patrão chegou e disse: “Me desculpe meu irmão, Ele é meio atrapalhado Darei sua demissão, Você fique relaxado, Não o verá nem pintado Mais aqui neste saguão". E Mané ficou calado Sem saber o que dizer, A injustiça que ali viu Não podia entender. Foi embora arrasado, Com raiva, decepcionado, Sem esperança de viver. E eu não sei, afinal, O que houve com Mané, Se conseguiu outro emprego, Se perdeu a sua fé Da família juntar Ou sem rumo foi morar Em uma rua qualquer... Como acontece com tantos Que sofrem com a pobreza Devido a falta de escrúpulos Dos agentes da riqueza Que exploram o trabalhador E promovem muita dor, Sofrimento e tristeza! 7 E eu termino este cordel Perguntando ao meu leitor: Você sabe como a gente Pode semear o amor E lutar pela justiça Pra combater injustiça Sem um pingo de temor? Se o caso de Mané Tivesse repercussão Em tudo quanto é lugar, Até na televisão, Ficava por isso mesmo O Mané vivia a esmo? Pois é, eu acho que não! Se houvesse consciência De Mané para lutar E gente interessada, Disposta para ajudar Era outro o resultado, Quando se fica calado A injustiça vai reinar. Por isso são importantes: Coragem, educação, Conhecimento, vontade Para enfrentar a ação Danosa do explorador Que trata o trabalhador Sem amor no coração... Além disso é vital Que saibamos escolher Os nossos representantes, Pois se houver no poder Quem noutra ocasião Amou a população, Outra vida vamos ter! 8 Fim Matheus Brasileiro Diniz

João Pessoa-PB, 13 de novembro de 2021 / 27 de maio de 2022.


Matheus Brasileiro - rodapé
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